Desenvolvimento do projeto de pesquisa PIBIC/UFF intitulado “Conflitos por moradia em Niterói: Uma leitura em contexto de pandemia do COVID-19”. O trabalho a seguir acompanha mês a mês a evolução dos casos de Covid-19 na cidade de Niterói e cruza esses dados com a renda e densidade por domicílio no município. Na figura ao lado, os mapas fazem uma contextualização do território e identifica os bairros.
O primeiro caso de Covid-19 em Niterói ocorreu no dia 09 de março, no bairro de Icaraí, área nobre da cidade. A partir do dia 02 de abril de 2020, a Prefeitura passa a divulgar os casos por bairro. Ao compararmos o que é apresentado na Figura 2, a renda versus casos por mil habitantes, observou-se que nas primeiras semanas os casos se concentram em bairros que apresentam setores com a Renda Média Mensal per capita acima de 10 salários mínimos, corroborando com a ideia de que a doença chegou no município através da população mais abastada.
A Figura 3 mostra a evolução da doença pelos bairros da cidade do dia 02 de abril ao dia 30 de maio, o que já ressalta alta incidência nos bairros de Jurujuba, Itaipu, Barreto e Matapaca no dia 30/04/2020. O período analisado neste mapa coincide com o decreto do isolamento social do município, a saber, do dia 16/03/2020 ao dia 23/05/2020. É possível observar que nos três primeiros meses da pandemia na cidade, apesar do isolamento social, a doença se proliferou também para os bairros com a população mais vulnerável. Em Itaipu, um bairro predominante de média e alta renda, mantém em 30 de maio de 2020, índices similares aos bairros de Jurujuba, Barreto e Ilha da conceição — estes com predominância de baixa renda —, o que pode vir a nos indicar que, de maneira geral, a propagação da doença se deu por famílias de alta renda para a população mais vulnerável, e a circulação na escala de bairro e intermunicipal (como é o caso da Região Norte) tende a interferir na disseminação da doença.
Observando a Figura 4, que mapeia os casos de coronavírus ao longo dos primeiros 10 meses de casos ativos na cidade de Niterói, observamos que a tendência da intensificação dos casos em bairros da região de Pendotiba (Maceió, Badu e Matapaca) e da Região Norte (Barreto e Matapaca) e de alguns bairros Região das Praias da Baía (Centro, São Francisco, Gragoatá e Jurujuba) do município.
Na Figura 5, onde apresentamos os casos acumulados até janeiro de 2021, todos os bairros que apresentam mais de 100 casos por mil habitantes — Maceió, Badu, Matapaca Barreto, Matapaca, Centro, São Francisco, Gragoatá Jurujuba e Itaipu — apresentam também setores censitários com índice de habitantes por domicílio superior a 3.01, com diversas faixas de renda.
Ademais, é visível que um bairro que apresenta alta densidade de habitantes por domicílio não significa necessariamente um alto índice de covid, como é o caso do Jardim Imbuí (com 4,34 habitantes por domicílio) onde, em 30 de janeiro de 2021, ocorreram “apenas” 10,65 casos por 1.000 mil habitantes de covid-19. Vale ressaltar que o Jardim Imbuí apresenta setores censitários com Renda Média Mensal de 3-10 salários-mínimos e nenhuma via principal de circulação corta o bairro; isto é, não há fluxo intenso na escala municipal e intermunicipal. Já o Bairro de Jurujuba (com setores acima de 3,19 habitantes por domicílio), que também não possui nenhuma via principal de circulação, com renda média mensal abaixo de três salários-mínimos apresenta na mesma data 135,4 casos de covid por 1.000 habitantes, o dobro de casos quando observamos que a média nacional é 43,80 e do município de Niterói é 57,65.